“Mau hálito pode provocar separação e até problemas no trabalho”, avisa dentista
O mau hálito, ou halitose, atinge 30% dos brasileiros e cerca de 50% da
população mundial, de acordo com a ABHA (Associação Brasileira de
Halitose). Apesar de ser um quadro comum, o popularmente conhecido bafo
de onça não é considerado uma doença ou fator de risco para problemas de
saúde. No entanto, a periodontista Rosileine Uliana, da ABHA, garante
que a condição traz uma série de consequências emocionais.
— O cheiro pode provocar constrangimento, insegurança, isolamento,
dificuldade de estabelecer relações amorosas e até baixo desempenho
profissional, especialmente se o cargo exigir contato com outras
pessoas.
Crianças também são vítimas do mau hálito
A boa notícia é que o problema tem solução. O primeiro passo para
extinguir o odor de uma vez por todas é descobrir sua origem. A
professora Marinella Holzhausen, da disciplina de Periodontia do
departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo, garante que o estômago, ao contrário do que a
maioria pensa, não é o maior vilão do mau cheiro.
— Em 90% dos casos, o problema é de origem bucal, ou seja, é reflexo de
gengivite, periodontite, saburra lingual e cárie. Resumindo, falta de
higiene.
Segundo a periodontista Gisele Fabri, os distúrbios gastrointestinais
ocupam um dos últimos lugares no ranking das cerca de 60 causas da
halitose. A especialista em pacientes com necessidades especiais explica
que a limpeza deficiente provoca o acúmulo de bactérias na parte
superior da língua e são exatamente esses micro-organismos que liberam
substâncias, como o gás sulfídrico, responsáveis pela alteração do
hálito.
— Para identificar a saburra lingual, uma das principais causas do mau
hálito, é preciso observar se a língua está com uma coloração
esbranquiçada, se há uma sensação de boca seca ou descamação da cavidade
oral. O cheiro característico de ovo podre ou enxofre pode ser outro
sinal importante.
A especialista também chama a atenção para as doenças periodontais. Ela
explica que o acúmulo de placa bacteriana proveniente da falta de
higiene desencadeia a inflamação da gengiva que, se não tratada, pode
evoluir para a periodontite — doença que acomete os ligamentos e ossos
que dão suporte aos dentes — e provocar o odor desagradável
Como todos esses "sintomas" costumam passar despercebidos, a professora
da USP avisa que a halitose pode ser mais facilmente detectada por um
estranho do que pela própria pessoa porque “o olfato acaba se
acostumando com o cheiro e perde a capacidade de perceber o problema”.
Neste caso, a ABHA oferece um serviço chamado
SOS Mau Hálito
destinado a pessoas que têm um amigo com o problema. É bem fácil
ajudar: basta preencher o formulário para que a entidade envie um e-mail
ou carta, sem revelar a pessoa que fez a “denúncia”, com informações da
halitose e indicação de profissionais.
Quando o mau hálito é normal?
Antes de sair correndo atrás do dentista, Gisele alerta que em algumas
situações, entre elas ao acordar, o cheiro “ruim” é normal. No entanto,
ela cita jejum prolongado, tabagismo, consumo excessivo de bebidas
alcoólicas, envelhecimento, regime de restrição alimentar, uso de
antidepressivos e até longos papos como agravantes do quadro.
— Essas situações diminuem a produção de saliva, considerada o
detergente natural da boca. Isso reflete na decomposição acelerada das
bactérias, causando o odor desagradável.
Isso significa que, por ser um fenômeno passageiro, não há necessidade
de tratamento odontológico. A orientação das dentistas é comer a cada
três horas, ingerir de dois a três litros de água por dia e priorizar
alimentos fibrosos, como maçã e cenoura, que auxiliam na limpeza da
boca. Rosileine acrescenta que o abandono do cigarro é outra atitute
recomendada.
— Além de prejudicar o hálito, o fumo aumenta em quatro vezes o risco
de doença periodontal, sem falar nas consequências para a saúde como um
todo.
Além disso, claro, que a boa higienização dos dentes não pode ser deixada de lado (veja o passo a passo abaixo).
Hálito sinaliza problemas de saúde
As dentistas advertem que a halitose pode sinalizar algo de errado com o
organismo, como a presença de diabetes, problemas renais, amigdalite,
sinusite, rinite, estresse crônico e até alterações hormonais nas
mulheres. Segundo a periodontista Rosileine, essas doenças também podem
ser as causas extrabucais do mau hálito.
— É uma cadeia em que uma situação leva a outra, tornando o quadro cada vez mais sério.
Embora muita gente desconheça, explica Gisele, a boca é a porta de entrada para uma série de doenças graves.
— As bactérias da boca podem cair na corrente sanguínea e prejudicar o
corpo todo, desencadeando endocardite, infarto, acidente vascular
cerebral (AVC), alterações glicêmicas e, no caso de gestantes, estimular
o parto prematuro.
Para evitar que um simples "descuido" de higiene oral se transforme em
quadros mais graves, as especialistas reforçam que escovação adequada e
uso de fio dental são atitudes que promovem não só a saúde da boca como
também do corpo.
A professora da USP lembra que não existe remédio milagroso, por isso
“o comprometimento do paciente com o tratamento é o que garante o
sorriso bonito e a prevenção de doenças”.
R7